Contra o machismo mulheres encaram cenário nos estádios que, conforme pesquisador, é espelho da sociedade


O ambiente machista está atrelado ao modo como o futebol se constituiu historicamente, explica Diego Morais, pesquisador e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC). Ele ressalta que o ambiente futebolístico é um espelho da sociedade, englobando desigualdades e lutas presentes no cotidiano.
“Pode parecer que no estádio todo mundo é igual ou se pode tudo.
Tente a mulher ir ao estádio sozinha para ver o que pode acontecer?”, provoca. O pesquisador analisa como uma realidade a condição de desigualdade encarada pela mulher no futebol.
“Ela precisa sempre provar aos outros que sabe de futebol. Se não, não pode torcer. E como se todo homem, apenas pelo fato de ser do gênero masculino, já soubesse de futebol. Crescemos entendendo que menino brinca de bola e menina, de boneca”.
Autora do livro A Verdadeira Regra do Impedimento - A história do futebol feminino cearense, a jornalista Karine Nascimento avalia que o machismo inserido no meio futebolístico atrapalha a aproximação das mulheres a este ambiente, seja como torcedora, jornalista ou jogadora. “A sonoridade (de movimentos como o ‘Estádio sem medo’) é muito importante por serem mulheres que sabem o que outras passam por gostarem de futebol”, argumenta.
Dados do Juizado do Torcedor apontam 101 ocorrências nos estádios Castelão e Presidente Vargas em 2017. Chama a atenção que apenas um caso tratava de assédio. Para a jornalista, a quase inexistência de registros pode ter relação com a naturalização por parte da própria mulher desse comportamento. “Tem a questão do medo também, entre outros motivos. Acho que tem tido mais ocorrências e não foram relatadas.”
Karine segue a análise sobre o baixo número de registros levantando a problemática de como o futebol é tratado, de forma à parte da sociedade. “Coisas que a gente em tese não tolera na sociedade, como a corrupção, mas quando no futebol um jogador faz um gol irregular e não assume, tratam como uma ação positiva. Por que o futebol não pode ser justo como a gente, em tese, quer que a sociedade seja? E essa visão inclui o assédio. Vejo uma relação bem próxima.”
Diante da realidade da presença feminina nas arenas de futebol, um grupo de torcedoras do Ferroviário propõe também ações que fortaleçam a permanência das mulheres nos estádios. As sugestões são de melhorias específicas para o gênero.
“Somos mães e não temos trocadores (para higiene dos bebês) nos estádios. É necessário uma política de segurança para nossos filhos e condições para alimentá-los”, reivindica uma das torcedoras, que prefere não ser identificada.
O movimento de mulheres nas arquibancadas tem ganhado força no Brasil, com engajamento de combate ao machismo. Em São Paulo, o Movimento Toda Poderosa Corinthiana, de torcedoras do Corinthians, é uma referência. Em Belo Horizonte existe o grupo Feministas do Galo; em Porto Alegre, a Força Feminina Corolada, em Pernambuco, as Coralinas (Lucas Mota).
O povo